Parte I:
Pegando o gancho do meu amigo Diogo China sobre impacto, evolução e investidores em um post no fórum do DHBrasil, venho trazer ao conhecimento de todos essa reflexão:
" Interessante é perceber como as coisas estão evoluindo...
Se um piloto se estrutura com Manager, treinamentos, resultados e feedback do trabalho feito, com certeza ele está a alguns passo à frente de muita gente. Essa muita gente que digo é (ou são): outros pilotos, apoiadores, patrocinadores e organizadores de eventos.
Um exemplo:
Se um piloto qualquer seguir essa receita, ele estará se estruturando melhor, então será que ele vai continuar aceitando que o Açougue da esquina da casa dele pague a inscrição de um campeonato? Será que uma camiseta por mês daquela lojinha será tão bem recebida? Será que ele vai se deslocar de sua cidade para correr a prova que vão fazer lá em "Escondidinho dos Raios que o Parta"? Que nem premiação, nem resgate, nem pista direita tem????
Acho esse raciocínio muito claro de chegar a uma resposta né? CLARO QUE NÃO!
E espero que mesmo sabendo que não é aceitável, esses pilotos não aceitem só pelo fato disso amenizar alguma coisa ou por não ter outro.
Corram atrás!
Portanto, espero que o que está acontecendo incentive muitos e muitos pilotos, assim todos irão perceber como é importante ter bons apoios e patrocínios, verão como é necessário discutir e cobrar aos organizadores de eventos que tem que ter pista boa, resgate funcional e premiação digna, isso sem contar estrutura local para que a corrida seja feita heim...
E que os pilotos parem de achar que "uma coisinha ou outra não faz falta":
Tinha uma revista que cobria e divulgava a cena brasileira extrema das bikes e teve que paralizar suas atividades; e fotógrafos que pararam de ir a eventos fotografar; tem um carismático piloto que assume a locução de um evento de DH que já não foi à ultima etapa realizada...e após tudo isso, parece que pouquíssima gente se importa.
Vc´s já se perguntaram o motivo disso tudo? Será que os pilotos tão fazendo o dever de casa?
-Que grande título heim... o de Campeão da Copa lá dos Raios que o Parta, que não foi divulgado, que não tem foto alguma e que vc teve que empurrar sua bike morro acima... "
Postado no DHBrasil em 28/05/2010 - 14:01.
Parte II:
E qual o motivo disso?
Vale lembrar que o esporte ao qual nos referimos acima é o Downhill, um esporte caro que exige uma estrutura financeira mais confortável do piloto, por conta dos custos de um equipamento relativamente bom. O DH não necessariamente tem que ser praticado com bikes de alto custo, pois tem gente que o pratica com bicicletas rígidas e adaptadas, mas nos moldes internacionais do esporte, não tem a categoria rígida, e o piloto que buscar o profissionalismo, terá que andar com uma bicicleta full suspension.
E como tudo começa com o equipamento, vamos colocar na média, que uma bike de DH custe R$ 10.000,00;
Capacete R$ 300,00
Outros equipos de proteção (que muitos acham opcionais) R$ 500,00 - por baixo!
Nem vou falar (mas vou somar!) do protetor de pescoço que é ao meu ponto de vista FUNDAMENTAL no esporte e que custa uns R$ 1.200,00
Então a brincadeira já tá em 12 mil reais...
Parte III:
E vai ser brincadeira sempre?
Não vai ser não!
Ao contrário do que costumamos ver em outros países, muitos ótimos atletas não competem, andam por prazer e diversão, treinam muito, executam belas manobras e desempenham pilotagem técnica primorosa, constroem suas próprias pistas, andam em qualquer pista, tem destaque na mídia, patrocínios, aparecem em vídeos, ou seja, são tão TOPS quanto qualquer profissional das competições (ao meu ver é aí onde se encaixam os praticantes de FREERIDE).
Com o passar dos anos (estou há mais de 10 anos envolvido com o MTB, seja filmando, fotografando, andando e organizando eventos, entre tantas outras empreitadas em prol da bike) percebi que a grande maioria dos praticantes de MTB que conheço, são competitivos. Querem participar de eventos e buscam resultados.
Já vi muitos dando desculpa antecipada, do tipo: Tõ indo no evento só pra andar com a galera!
E ao final do evento, ao ver sua colocação lá pra trás, ficar reclamando consigo mesmo e dando desculpas, sem mesmo ser indagado, para terceiros, do motivo de sua péssima atuação como "piloto".
Sinceramente acho uma grande mancada pessoal isso, pois uma pessoa pode mentir para outra, mas nunca poderá se enganar mentindo para si mesmo!
Parte IV:
Então como se destacar nos eventos ou pelo menos ser um bom piloto?
Com o equipamento e a vontade de andar de bike, você precisa de um lugar para treinar.
Deve então, partindo do príncípio básico de "plantar para colher" ou até mesmo "plantar para comer", seria muito interessante que todo piloto colocasse a mão na massa e fizesse sua pista ou ajudasse a construir uma.
Lamentavelmente, infelizmente, a grande maioria dos pílotos não tem a iniciativa de construir uma pista, rampa, nada! Nem ajudam pessoas que estão construindo uma. E o que eles fazem?
Choramingam que em sua cidade não tem lugar para andar ou "reclamam e criticam" as que existem, dizendo que deveria ser de tal jeito isso ou aquilo.
Se o piloto não treinar, ele não terá perícia alguma em pílotagem para poder se destacar nas competições, então tem que treinar e muito em cima da bike e treinar e muito, o próprio downhill nesse caso.
Sem se esquecer de cuidar da parte física, mas lembrando que só a parte física, não ajuda em transpor obstáculos na, e da pista, apenas ser mais resistente e forte para tal tarefa.
Parte V:
Vou construir alguma coisa para começar!
Será ótimo isso, mas não se acomode com a rampinha do lado da sua casa, nem com o morrinho que tem inclinação leve e duas curvas.
Lembre-se que uma pista de DH completa, tem de tudo um pouco, que podemos citar: ótima inclinação (declive acentuado), drops, jumps simples e duplos, pedras, curvas acentuadas, relevês, off camber e até mesmo um trechinho de pedal para completar a exigência total do atleta/piloto.
Uma pista só com alguns itens desses acima, ou então com os mais simples, vai te prejudicar bastante em uma competição de alto nível, já que você não saberá o que fazer ao encontrar um obstáculo diferente, tendo que contorná-lo ou então vai tentar encará-lo e fazer pior, que é se machucar por besteira. Já que nunca fez, porque vai tentar incorporar o super-homem e correr riscos?
Sendo assim, construa o que você puder, onde puder, mas faça isso sempre. Uma rampa aqui, um drop ali, um pumptrack de fundo de quintal em outro canto... porque uma hora, você estando treinado, você terá um lugar, que te exigirá, para poder colocar tudo o que aprendeu em prática.
E melhor, se tiver um lugar para fazer uma pista inteira, ou quase, faça-a!
Por favor esqueça essa mania de "resgate", isso é coisa de acomodado. Tem que ter resgate em competição!
Já que se espelham tanto em piloto gringo, preste atenção:
- Você acha que os gringos empurram suas bikes nos vídeo para fazer cena? Claro que não! É o seu dia-a-dia. Muitos deles não tem pista com resgate, já começa por aí.
Parte VI:
Pronto para a competição
Como é bom chegar em Balneário Camboriu, ao pé da písta, olhar para um lado e ver uma praia paradisíaca, pro outro um morro lindo que abriga uma pista maravilhosa e sobre nossas cabeças, um teleférico.
Situação única no país em que vivemos, diga-se de passagem.
O mais comum das competições de DH que vivenciamos por aqui, começa com falta de estrutura, e de um modo básico e geral! Muitas das vezes com divulgação boca-a-boca, em "pista" ou melhor dizer "projeto de pista ruim", sem sinalização (bumps, placas, fiscais), sem obstáculos, sem inclinação, sem tamanho adequado, sem narrador, sem cronometragem decente, sem estrutura de público, sem banheiro, sem uma barraca de alimentação, sem resgate, nossa...
Tem evento que não faz cartaz, tem evento que chupa cartaz, tem evento que coloca piloto gringo em foto que pegou na internet no cartaz e também no troféu de acrílico, premiação inexistente, se 2 pilotos empatarem, um deles ficará sem troféu ou medalha, se aparecer uma mulher para competir, ninguém da organização sabe o que fazer. Parece o fim do mundo, mas não, é a realidade das competições brasileiras.
Em alguns casos tem divulgação, organização e num tem pista. Onde já se viu? Pior que é verdade. Eu vi um evento recente que só faltou a pista...
Infelizmente as pessoas aqui no Brasil ficam muito sentidas em serem criticadas. Elas brigam com você, elas reclamam com todo mundo de você, elas param de falar com você, aí te criticam de volta de forma pejorativa, e você só fez uma crítica construtiva, só estava tentando ajudá-las ao dizer que isso não é certo ou aquilo estava errado. LA-MEN-TÁ-VEL isso!
"É melhor ter um histórico do que algumas histórias para contar!"
Parte VII:
Ganhei só um pacote de meia de premiação!
Caramba! UM PACOTE MESMO OU UMA MEIA SÓ?
Uma das coisas mais feias do mundo é a falta de respeito para com o próximo.
Não faça uma competição se você não pode realizá-la por completo, muito menos premiar o grande vencedor dela.
Voltando ao início desse post piloto e atleta, não se desvalorize, pois se você comprou sua bicicleta, treinou, viajou para o evento e se destacou, você não merece um titulozinho qualquer. Isso não vai acrescentar nada ao seu currículo.
O evento era de onde? Quem patrocinava? Quem competia com você? Seré que você precisa mesmo provar pra si mesmo alguma coisa depois de ter superado tantas etapas pessoais? A resposta é não, não precisa!
E porque não, o organizador, ao invés de fazer um evento, não faz um "encontro dos amigos" ou "treininho cronometrado"? Não tem nada de feio nisso! É uma confraternização entre amigos que tenho certeza será muito melhor recebido por todos do que dizer que é um evento que num tem um mínimo necessário para acontecer.
E porque você então que subiu ao pódio, ganhou um pacote de meia de prêmio?
Quanto foi a inscrição, tinham quantos atletas e quem patrocinou o evento?
Tem hora que você precisa saber um pouco de matemática.
Parte VIII
E os patrocinadores?
Será que eles nunca chegam junto?
Muitas marcas não patrocinam, nem apoiam pilotos, projetos ou eventos. Tantas outras não anunciam em sites especializados ou revistas. Grandes marcas não oferecem um SAC ou garantia decente, mas será isso uma mentalidade brasileira?
Muitos empresários do mundo da bike se defendem usando como motivo as altas taxas de importação do país e também o contrabando, mas isso tudo não justifica suas falhas e pendências.
Já vi, e é fato, muitos projetos legais e de baixo custo com pessoas sérias e comprometidas com o esporte, não vingarem por conta da falta de suporte das marcas.
Voltando ao evento, ele é uma festa que está sendo oferecida por alguém. Se o evento não tem uma marca por trás, lamento dizer que o patrocinador então é o "dono do evento" e ele é quem está oferecendo a festa, portanto é o responsável que acabará promovendo indiretamente uma marca ou outra ao dar algum produto como prêmio.
Eu vou do princípio de não apoiar, quem não te apoia.
Já os pilotos gostam de mostrar bem grande pra todo mundo ver que sua bicicleta é uma modelo WXYZ da marca Zyxw. Se você, como piloto que vem se destacando, tampar esse nome, uma hora o dono da marca vai ver isso e vai se perguntar o motivo. Acho que será um bom começo.
" Uma marca aqui no Brasil uma vez falou pra um piloto da Elite que pedia patrocínio e mostrava as vantagens: - Pra quê eu vou gastar dinheiro em patrocínio se todo mundo usa minha marca? É só você ver nos eventos e fotos das revistas, eu apareço direto! "
Pense nisso atleta!
Parte IX:
Não apoie quem não te apoia e não elogie o que não merece elogio
Vejo toda hora alguém criando uma equipe, aí o nome da equipe é... o nome de uma que já existe ou o nome de uma marca qualquer q nem te dá um chaveiro;
Vejo toda hora o cara adesivando sua bike simples com o nome da bike top;
Vejo gente voltando de um evento ruim de fato, o elogiando;
Vejo evento sólido há 5 anos cometendo vacilos de iniciante em cada etapa e geral passando a mão na cabeça, chegando a aplaudir.
Sinceramente: você não precisa disso e está colaborando para que tudo afunde com você junto!
Você não vai ganhar nada se conseguir se destacar como piloto e sua equipe tiver um nome ou logo copiado de alguma marca já famosa e conceituada;
Você não será pior ou melhor do que alguém por causa da bicicleta "da hora";
Se você elogiar um evento ruim e sempre relevar um vacilo de um organizador, você acha que o próximo evento será melhor? Não será não, e se bobear, pode ficar até pior.
Você como "atleta inscrito" em um evento, tem seus deveres, mas tem direitos também. Você é um cliente. Reclame se tiver razão, trate todos com educação e peça desculpas se precisar. Não somos, nem eu nem você, melhor do que o outro.
Parte X:
A evolução só acontece se você quiser
Acho que já disse tudo, mas para completar, aconselho principalmente aos novos pilotos que estão entrando no esporte, que sejam amigos, humildes, simpáticos e principalmente honestos como ser humano; Como piloto, que façam o dever de casa e trabalhem para mudar a cena atual; Como futuros profissionais, que invistam no esporte e nos pilotos se sua área estiver relacionada, mas se não estiver, pelo menos incentivem a formação de novos pilotos.
Tenho visto muita gente se pintando de Rei ou Herói de alguma coisa, mas na verdade não passam de uma fantasia que vestem para iludir as pessoas, pois quando se conhece realmente, coisa que não dá pra fazer em mensagens trocada num fórum ou em um encontro de final de semana em competições, é que se descobre com quem realmente você está lidando.
Voltando ao início de tudo:
-A evolução das coisas que estão à sua volta deve partir de você!
Abraços e boa reflexão.
Na minha opinião, o cenário do downhill no Brasil ainda está engatinhando. Obviamente, em nosso país, isso envolve muita coisa (como citado no manifesto do Jony), mas o ponto principal é dinheiro. Esporte caro, ainda com pouca visibilidade em um país de terceiro mundo.
ResponderExcluirEnquanto muitas pessoas ainda se envolvem de maneira correta, profissional e competente visando a melhoria do esporte, a grande maioria ainda quer levar as coisas do jeito que pode visando única e exclusivamente o próprio umbigo.
Como um ex atleta de downhill num passado distante, tive de Abandonar o esporte por falta de recursos financeiros (o famoso paitrocínio não pode mais bancar). Tive títulos importantes correndo ainda na categoria juvenil. Talvez tivesse evoluído mais se tivesse continuado, visto que antigos concorrentes figuram entre os tops do Brasil atualmente.
O que faltou foi um apoiador que acreditasse no meu potencial e no retorno que aquilo pudesse trazer.
Ao retornar ao esporte, depois de quase 10 anos, posso dizer que o esporte evoluiu muito. E não somente em questão tecnológica dos equipamentos. As competições, as pistas, empresas relacionadas ao esporte e os pilotos também evoluíram. Mas ainda está longe do que consideraríamos ideal.
Tirando os que somam negativamente, vamos aproveitar os que querem e estão fazendo algo de positivo pelo esporte. Apoiar quem efetivamente apóia o esporte.
Acho que só assim continuaremos evoluindo e somando para nosso esporte.
Exemplo de freerider gringo é o Hans Rey. (algo que será difícil ver no Braisl)
ResponderExcluirAntigo atleta de bike trial da GT, ficou famoso em competições e filmes antigos.
Atualmente é formador de opinião e divulga o mountain bike viajando o mundo com apoio de grandes marcas visitando bike parks e andando com grandes atletas.
Quem quiser ver o twitter dele: @HansNoWayRey
Só digo uma coisa, é difícil porem possivel trabalhar corretamente!
ResponderExcluirConcordo com quase 100% do que está escrito, acho que todos devem refletir sobre, inclusive os que veem o esporte só como diversão, pois a atitude deles deve ser coerente com a luta dos que correm atras de fazer as coisas certas.