Sempre achei muito piegas essas justificativas de participações em competições e resultados e sempre, mas sempre mesmo tive aversão a disputas, a competições realmente.
Assistindo agora ao programa na Rede Globo, sobre a maratona na neve que o repórter da emissora, Cleiton Conservani, participou, e durante a prova deu um depoimento onde puxava forças falando sobre o que o motivava, que era distância da família e da filha.
Nisso percebi que no início do mês participei da confraternização de final de ano da Pedal Livre Bike Shop, o Pega da Pedal, um evento que sempre estive presente, porém nunca pedalando, e senti na pele o que significava esse sentimento.
Era a intenção desde o início do ano participar, mas só levei a sério, junto com meus amigos Amplus e Nilson, cerca de 3 meses antes.
O percurso é perturbador pra mim: começa com 8km de subidas, sendo os 3 finais desse start já, bem íngremes. De resto é downhill brabo, um all mountain light e paciência para chegar de volta são e salvo.
Apesar de sempre praticar esportes, meu físico não é nada atlético. Pra piorar subidas na bike, que é algo do Cross Country, não faz parte do meu menu de opções de rolé, e pra encarar o Pega eu teria que fazer algumas subidas, algo parecido com um treino antes.
O trio começou os os treinos de uma forma mais descontraída e pedalando pelo local do Pega, mas não fazendo o percurso em si. Acho que logo percebemos que aquilo não adiantaria e começamos a fazer o percurso quase todo porque ele começava 5km acima da largada, ou seja, começavamos na parte das subidas íngremes e o resto era o programado, claro que ao final do nosso percurso parávamos 5km antes da chegada, deixando de lado uns 10km do total de 35km no Pega da Pedal. Nisso mais um integrante, o Alex, tinha se juntado ao grupo.
Aos poucos fomos ganhando gosto pelo percurso, mesmo sendo desgastante e cruel, já não tínhamos mais medo dele e acabou que pedalamos por lá o máximo possível nesses 3 meses de vulgo treino.
Chegou o grande dia e eu estava ciente que participaria do rolé em companhia do meu amigo Amplus e chegaríamos em último, pois nossa missão era o rolé e a condição física não permitiria nada além disso.
O Pega da Pedal é exatamente um rolé de amigos, mas alguns 'competidores' participam e levam à sério, tanto que tem troféu pro Hole Shot (quem faz a primeira curva do Start Loop mais rápido), Rei na Montanha (quem chega ao topo mais rápido), Campeão Masculino e Feminino (Homem e Mulher que chegam primeiro de todo o percurso) e a zuada dos amigos, do qual fui um dos idealizadores, o Panga da Pedal, pro pangaré que chega em último.
Então já na largada ao estilo Le Mans (os pilotos de um lado, as bikes de outro; dada a largada, correm, pegam a bike e saem pedalando) fui caminhando pra minha bike (o joelho não permite correr), deixamos os competidores acelerarem e saímos nós 4 e alguns outros competidores em direção ao morro; de cara já não fizemos o Start Loop, sendo penalizados em 5 minutos e fomos embora. Seguindo junto com Nilson até um certo ponto, percebi que não tinha visto Alex, nem Amplus passando.
Nilson tinha acelerado e estava duas curvas acima de mim, nisso passa um carro por mim e o Amplus de dentro gritou: "a bike partiu no meio!"
Eu já não tava entendendo mais nada e pedalava sozinho. Até ali parecia que eu era o último, mas não tinha certeza e fui embora, sozinho toda a subida após os 5km iniciais.
Chegando ao topo, onde parei pra descansar e colocar o equipamento de proteção, encontrei Ximiti e Pincel, 2 pilotos do RJ, que estavam já saindo pra começar a descida.
Fiz então a descida sozinho também, preocupado em não cair e correu tudo bem. Não foi como eu queria, teve sustos, mas no geral sem problemas.
Após essa descida tem a volta pelo pasto em subidas e a descida pro Bar do Henrique, que julgamos ser o meio da prova e local de abastecimento.
Na descida dei de cara com uma porteira fechada, meu freio não parava mais e só consegui parar porque "meio que saí da bike" e arrastei um dos pés pelo chão para diminuir a velocidade e passar pelo lado da porteira, num portãozinho aberto. Tomei um susto muito grande!
No Bar do Henrique encontrei Alex, que eu não tinha visto mais até então, Nilson, Ximiti e Pincel. Comemos e bebemos o necessário e começamos a subida da volta. Na segunda curva percebi que ainda estava com os equipamentos de proteção e parei pra tirar. Isso me deixou muito atrás de meus amigos e a partir dali faria a volta sozinho.
Foi então que começou minha guerra pessoal:
Jony 1 dizia que não ía dar pra completar;
Jony 2 perguntava se Jony 1 era um homem ou um rato;
E Jony 3 sofria com essa briga entre Jony 1 e Jony 2.
Foi foda! Me perdoem a expressão.
Claro que ía dar pra completar, eu sabia disso nitidamente, mas meu psicológico a essa hora já tinha se perdido e apesar de tudo eu estava bem ciente disso - acho que era Jony 3 dando tapa na cara de todo mundo.
Difícil explicar o que se passa em nossa cabeça nessas horas de sofrimento. Muita coisa vem e vai, muita coisa boa realmente te deixa tranquilo e te impulsiona, muita coisa ruim que aconteceu tenta te minar e te desviar do objetivo, e isso tudo causa uma confusão dos diabos em sua cabeça e as pieguices do vencer os desafios florecem.
Pra piorar eu tanto não me importava em ser o último, como comecei a me importar e quase num acesso de loucura ri disso; não estava ali pra competir porque deveria me preocupar? E não me preocupava, mas algo me alfinetava nessa questão.
A água gelada da minha mochila de hidratação me levava e as músicas no iphone também ajudavam. A cada curva que eu não reconhecia mais no percurso, uma música entrava pra me empurrar morro acima.
Quando numa das músicas do Rise Against (eu usava uma camisa deles!) bombava no refrão:
..."This is not a test, oh no
This is cardiac arrest"...
Foi engraçado, mas também foi trágico. Eu tava acabado, mas ía girando.
Cheguei ao topo, parei na vista e saí da bike.
Debrucei sobre a bike e de olhos fechados parecia que eu estava entrando num túnel do tempo; não em flashs de lembranças pipocando, mas na velocidade da viagem, túnel adentro, em si.
Então eu já comemorava ter chegado ali. Agradecia a Deus por tudo. Por tudo mesmo:
Pelas coisas boas que ele me proporcionou, pelas coisas ruins que ele me mostrou, pelos problemas que ele me livrou, pela capacidade de lidar com sabedoria diante das dificuldades, pela inteligência na hora de decidir pelas atitudes e escolher o caminho certo, pela chance de enxergar a luz nos momentos de escuridão, pelos novos projetos, pelos novos trabalhos, pelos novos amigos, pelas novas oportunidades que estão batendo à porta, pela capacidade de optar e ser sempre do Bem.
Só podia dizer obrigado!
Coloquei os equipamentos de proteção novamente e fiz uma descida segura. No final encontrei com Théo que veio na função de resgate, pois é assim que funciona: se alguém não chega em 4 horas de pedal, alguém tem que ir atrás pra ver se está tudo bem.
Já que aparentemente estava tudo bem, autorizei Théo a voltar e continuei a pedalada até a chegada.
Todos os amigos me esperavam e foi muito legal estar de volta 4 horas e meia depois. Larguei a bike e já fui direto pra premiação e só depois tomar um banho, rango e cerveja.
Eu, Théo e Edmundo
Eu e Nilson
Gostaria de novamente agradecer aos meus amigos da equipe XXL: Amplus, Nilson e Alex.
Também aos integrantes do Team que convidei, mas por motivos de força maior não puderam comparecer: Luciano Azeitona, Breno Angelo e Fabiano Pimentel - VC'S fizeram muita falta galera!
Ao meu brother Théo Duarte e família pelo evento e aos apoiadores de sempre Pedal Livre Bike Shop, Santa Cruz Bicycles Brasil e Sayão Sushi Delivery.
Ainda tive nesse dia o aniversário de 5 anos do meu sobrinho Caíque, que fui direto do Pega pra lá.
- Eu tinha que chegar de qualquer jeito dessa pedalada!
Eu e Cacá
Abraços e beijos pra todos. Feliz Natal e uma ótima virada de ano.
- Todos podem ser do Bem, basta querer!
tenho orgulho de vc jony... feliz natal e um prospero ano novo...
ResponderExcluirValeu Perereca, obrigado mano! Tudo bom aí tb, procê e família.
ResponderExcluirValeu!!!! Jony. Você, Amplus e Nilson, me colocaram de volta as pedaladas!! Estou feliz que conseguimos terminar esse pega da Pedal!! O mais importantes é encarar competições como desafios, tornando o fim da jornada o mais importante!! Por que ser o melhor é momentaneo, mas completar desafios é para sempre!!!
ResponderExcluirBoa Alex!
ResponderExcluirMais um pro bonde agora então. Não vejo a hora da bike nova chegar pra voltar pros rolés.
Abraços mano.